
Você já imaginou viver em uma “Sequência de sonho sem uma narrativa” por alguns intensos minutos?
A sensação de acordar num sonho real, uma soltura somática prazerosa, um afinamento sensitivo e sensações físicas, olhos fechados, a beleza rara do maquinário retinal e exploração de toda forma de arte, transcendência da atividade mental.
Fjögur Píanó, curta metragem sob direção Alma Har’el, em parceria com a banda islandesa Sigur Rós, é puro teatro avant-garde, mas chamou a atenção especialmente o surrealismo que permeia determinados momentos do mesmo…Nele há espaço para passos de envolvimento com Denna Thomsen, e especialmente para ver Shia LaBeouf fazendo papel de prisioneiro do Controle Mental Monarca, onde conseguimos sentir e ver poeticamente e com um certo surrealismo, a face de uma relação no qual ambas as partes estão passando por uma experiência psíquica — cada um no seu turno estava recebendo a chave de lembranças — diante de um gigantesco e complexo processo evolutivo , infinito em sua variedade.
Tudo é registrado em slow motion, com alguns planos incríveis, com cenário repleto de referências ocultas, porém, sempre diferentes, ambos ficam face a face com o que se acredita ser os dois lados de uma mesma pessoa, transitando entre o carinho e a agressividade, enquanto seus corpos fazem uma dança redemoinhante de formas celulares indescritíveis.
O que remete bastante a imagem de dois artista que mudaram a história das performances corporais, Marina Abramovic, que durante muitos anos criou e recriou números experimentais e grandes obras de arte, reconhecidas mundialmente, ao lado do seu companheiro, Ulay.
Juntos, o casal produziu arte durante 12 anos nômades, entre 1976 e 1988, viajando em um trailer. Eles se diziam um só corpo (nascidos no mesmo dia, em anos diferentes), feito de duas cabeças, mas com a mesma identidade e propósito artístico.
No curta metragem, o Equilíbrio Humanoide, representado pelas criações do masculino e feminino, passa por fortes viagens dissociativas, é manipulado por forças externas e suas tentativas de se libertar do controle mental, se assemelha mais e mais com a nossa realidade paradoxal, e a verdade de que as coisas bonitas morrem rápido, como as borboletas, pode ser sentida a cada corte, a cada virada, a cada plano que sempre apresenta um elemento diferente, fazendo conexão com esse quebra-cabeças.
A diversidade de referências e o conteúdo da experiência são ilimitados, porém as suas características são a transcendência de conceitos não verbais, nos levam as dimensões de espaço-tempo, em busca do que temos como identidade, como alguns relacionamentos que temos com nós mesmos ou com pessoas e objetos.
É cru, hipnótico, doloroso e psicodélico.
Sigur Ros – Fjögur Píanó from Alma Har'el on Vimeo.
Texto por Clara Matangi (fb.com/clareirah)
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